sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ego em Jogo


O saber conviver se tornou a marca de libertação para essa humanidade, que busca apenas o próprio privilégio. Praticar a intolerância é natural do ser humano, instigado pela ação cultural. E muitos são os modos pelos quais demonstramos nossa limitação comportamental, em se tratando de respeito ao próximo.

A diferença religiosa contribui para um descontrole na convivência. Muitos matam, julgam e ofendem praticantes de uma fé distinta por pura pré-definição de caráter. Porém, há pouco, foi veiculada uma propaganda da Atea- Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos- que condena a prática da intolerância. Nela explicitava-se a figura de Hitler e de Charles Chaplin, sendo o primeiro crente em Deus e o segundo ateu. A seguir, vinha a frase “Religião não define caráter”. Compreendendo-se os feitos desses homens, não há razão para menosprezar alguém por sua crença.

Não é somente no âmbito da fé, de times esportivos, da política ou da cultura que a tolerância é escassa. Dentro de nossas próprias casas temos familiares, com mesmos valores, e que muitas vezes são vítimas de nossa frivolidade. O respeito começa pela educação e pelo modo como tratamos os mais próximos. Se somos incapazes de renunciar nosso ego, em detrimento da família, como saberemos conviver com aas diferenças externas? Os direitos humanos têm de ser ensinados e praticados nos lares.

A aniquilação do egoísmo humano está na prática da democracia. Não somente na política, mas principalmente na comportamental. Saber exercer a “coisa de todos” é negar privilégios e perceber que, humanamente, somos iguais. Talvez, sim, nenhum de nós consiga escapar plenamente da intolerância. Porém, cultivar essa ideia não fortalecerá a tentativa de reconstituição do respeito mútuo.

Raquel Murad

(Minha redação no vestibular da Unifesp 2011, cujo tema era “A Intolerância em xeque")

Um comentário:

Edson Rossatto disse...

Fui católico praticante por mais de vinte anos. Um dia, resolvi não virar a cabeça para o outro lado e aí sim enxerguei a verdade entre os humanos. Religião realmente não é garantia de bom caráter. Seu texto está muito bom. Parabéns Raquel.